Criatividade Poética
– Antônia Gonçalves
Em meio às loucuras e tensões próprias do mundo contemporâneo, marcado por volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, a criatividade poética continua se apresentando como recurso capaz de conduzir o homem ao caminho do equilíbrio, da compreensão de si mesmo e da harmonia com sua natureza anímica. Afinal, ao lado das demais formas de expressão artística e espiritual, a poesia é um dos atalhos mais curtos para se alcançar o território do sagrado, onde ser feliz é sempre uma possibilidade real.
Por meio da criatividade poética, é possível dar voz às experiências íntimas mais difusas e complexas, transformando emoções objetivamente intraduzíveis em linhas perfeitamente capazes de extravasar sentidos que a racionalidade cartesiana não alcança. A poesia permite que os poetas naveguem pelas profundezas da alma, explorando fragmentos obscuros.
Além disso, a criatividade poética não apenas oferece um meio de autoexpressão, mas também promove o compartilhamento, a empatia e a compreensão mútua. Poetas são construtores de pontes de conexão com os outros e reconstrutores de emoções e sentidos fragmentados pela frenética e interminável corrida do homem, em busca de possuir bens e de experimentar prazeres.
Portanto, encorajar e apoiar novos poetas é essencial não apenas para enriquecer o cenário literário, mas também para nutrir a alma coletiva da humanidade. A criatividade poética é voz que ecoa através dos tempos, disseminando o direito ao sonho, o afagar de dores e a esperança do homem no próprio homem.
Novos poetas, novos livros e criatividade poética
A internet vem mudando todos os nossos hábitos e abrindo oportunidades de interação jamais imaginadas. E isso conspira a favor do retorno da poesia às páginas da alma das pessoas do senso comum. Nunca o homem sentiu-se tão inseguro quanto atualmente, tão afastado de sua natureza anímica. Ora, a história mostra que a nossa espécie sempre flerta com o perigo, mas nunca se joga do precipício. Na hora “h”, dá meia volta e, pelo instinto de sobrevivência e uso da inteligência, dá um passo atrás e refaz seu rumo. Assim se dá com o nosso afastamento do território onde a poesia se instala: a alma. Neste momento de frigidez e consumismo, distanciamento e utilitarismo, assistimos a poesia voltar a ganhar terreno, auxiliada pelos recursos digitais, incitando o estímulo à criatividade poética até mesmo daqueles que jamais pensaram em fazer versos.
Surgem novos poetas, novos livros, e a criatividade poética, adormecida na alma de todos nós, volta a reclamar o espaço perdido durante os anos de avanço da tecnologia e do progresso material. É empolgante assistir novamente o interesse dos jovens em poesia. Basta olhar o Google, o Youtube e todas os tipos de redes sociais e… lá está a poesia, avançando e retomando seu lugar nas almas, nas mentes e nos corações, de onde nunca se afastou, ainda que neles tivesse adormecido.
Livro para despertar a criatividade poética do leitor
Poderíamos apresentar aqui dezenas, centenas de obras recém-lançadas, de novos poetas encharcados de criatividade poética. Desta feita, porém, nos deteremos em um livro, particularmente, que encarna essa retomada do espírito da poesia com a força de uma pororoca, que arranca pela raiz todo o tipo de resistência à volta do espírito poético. Refiro-me à obra eternamenteviva.com – “O Endereço da Vida Eterna“, de Luiz Valle.
Este livro multifacetado, escrito alternadamente em prosa e poesia, conduz o leitor por uma jornada repleta de suspense, emoção e reflexão, em torno da vida da protagonista, Clarisse. No cerne da narrativa está o confronto psíquico e emocional enfrentado por ela, vítima do assédio de um hacker e voyeur que invade sua privacidade digital, infernizando a sua vida. O livro é um misto de exposição e convite à criatividade poética.
Ao integrar poesia e prosa, o autor não apenas enriquece a história, mas também inspira os leitores a considerarem sua própria criatividade poética. Testemunhar como os personagens transformam suas experiências e emoções em versos de significados ao alcance do leitor mais simples, estimula aquele que lê a (quem sabe?) tornar-se, ele também, poeta.
Nossas boas-vindas aos poetas que se juntam aos antigos fazedores brasileiros de versos e tomam lugar nas mídias eletrônicas para plantar rimas e estrofes!